
Precisamos a cor dar para à vida
A separação em tempos de Pandemia
14/10/2020 22:31
A separação
Reflexão sobre a separação que é também uma partida.
Quando a solidão e sensação de abandono chega ao extremo, você percebe que não tem mais nada a perder. E se questiona para qual finalidade você existe nesse relacionamento e no momento só deseja saber qual é, ou era, o seu objetivo de vida. Quer descobrir quem ERA você? Como se tornou essa pessoa que é hoje? Por acaso, se lembra como era? O que gostava de fazer? Quais eram seus sonhos?
A onde está agora, não encontrará respostas, portanto será preciso partir para procurar e conhecer outros lugares, pessoas e voltar a sonhar novamente.
“Eu não sabia exatamente o que eu precisava encontrar, apenas sentia um impulso para fazê-lo, para buscar algo que até então não encontrara. Quando minha tristeza se tornou insuportável resolvi partir, não havia para mim outra escolha, estava triste por partir, e ficava triste por permanecer ali” (Nogueira, 2006).
Imagine a pobre pipoca, (Homem ou Mulher) fechada dentro da panela, lá dentro está cada vez mais quente, se pensasse diria que sua hora chegou: Vou morrer. Dentro da casca dura, fechada em si mesma, não pode imaginar um destino diferente, não pode imaginar a transformação que está acontecendo. A pipoca nem imagina o tanto que é capaz. Aí, a grande transformação acontece a pipoca... BUM! E ela surge completamente diferente, como nunca havia imaginado.
A taxa de separação conjugal em tempos de pandemia tem aumentado consideravelmente e essa decisão do casal traz à outra questão, a separação dos pais dá início a um momento difícil também para os filhos, principalmente se eles não forem orientados para lidar com essa situação.
No período da separação, talvez por falta de preparo dos pais, geralmente os filhos não recebem esclarecimentos sobre o ocorrido e muitos se desnorteiam, porque na maioria das vezes, não presenciavam relações conflituosas entre os pais que justifiquem o rompimento e se presenciavam geralmente não estão preparados para essas mudanças. Nas pesquisas recentes sobre separação observamos que o rompimento do relacionamento do casal, acarretará diferentes tipos de mudanças na vida de todos da família.
Com o nascimento dos filhos sem inicia uma nova família. Os pais tendem a influenciar os filhos e estes naturalmente, se inspiram nos comportamentos dos pais.
Quando ocorre a separação, é preciso tomar cuidado para não destruir essa inspiração e se instalar uma guerra de poder entre os pais, porque neste momento os filhos podem ficar confusos e apresentar ao mesmo tempo diversas dificuldades emocionais, que podem acarretar distúrbios alimentares, do sono, da aprendizagem, ou sérios problemas com a saúde e ainda os distúrbios comportamentais que envolvem droga, tabagismo, álcool, fuga e até mesmo tentativa de suicídio.
No momento em que se concretiza a separação do casal, a família se transforma e passa ser representada por mãe e filhos e, pai e filhos.
Ter duas casas pode ser algo positivo para os filhos, na medida em que os pais possam desenvolver relacionamentos independentes e definir regras, papéis nítidos e claros, com ausência de atritos absurdos. Lembrando que se os pais estiverem confiantes e positivos para o enfrentamento desse novo momento, com certeza os filhos se beneficiarão muito.
Geralmente as consequências do fim do relacionamento de um casal podem gerar consequências desastrosas para os filhos. Entre elas, podemos citar a alienação parental que é uma patologia gerada por um dos cônjuges, por estar com raiva devido o fim do relacionamento, então manifesta o desejo de querer a destruição do outro. Em meio a esse sentimento de raiva, a pessoa não consegue recomeçar sua vida e utiliza alguns artifícios para atingir o ex-cônjuge, utilizando os filhos como meio. Nesse momento dá início a um processo de desmoralização do ex-cônjuge, os filhos são manipulados para que tenham aversão à mãe ou ao pai.
Diariamente no contexto psicoterapêutico, constatamos um desconforto emocional e um contínuo “adoecer necessário” por aqueles que se sentem usados como armas ou escudos entre os pais. O rompimento conjugal será saudável e necessário e é esperado que contribua para extinguir brigas e desentendimentos entre casal, mas mesmo na condição de separados, raramente isso acontece.
Após o período de separação dos pais e durante a convivência com estes, é importante que os filhos se sintam acolhidos nas duas famílias.
Percebemos o quanto é valioso todos viverem bem nesse novo contexto familiar após a separação, isso contribui para o bem estar emocional e a saúde dessas novas famílias. Assim tanto os filhos, quanto os pais emocionalmente bem, contribuem transmitindo harmonia uns para os outros e, consequentemente vivenciarão essa experiência de maneira equilibrada, tranquila e harmoniosa.
Segundo Winnicott (1971), podemos dizer que o ambiente satisfatório é aquele que começa com um grau elevado de adaptação às necessidades de cada criança. “Geralmente a mãe é capaz de provê-lo, por causa do estado especial que ela se encontra, o qual denominei “preocupação materna primária” (p.4). Quanto a presença do pai, também será de extrema importância na vida da criança, a esse respeito Winnicott acrescenta: “Incluir-se iam as funções paternais, complementando as funções da mãe, e a função da família, com sua maneira cada vez mais complexa de introduzir o princípio da realidade, ao mesmo tempo que devolve a criança a criança” (p.5).
Enfim, concluímos que a separação dos pais, precisa ser cuidadosamente acompanhada, por profissionais da área de Psicologia e se necessário Psiquiatria para que possam ajudar esses pais a evitar posteriores conflitos emocionais em sua vida e na dos filhos.
WINNICOTT, D. W Tudo começa em casa. Trad. SANDLER, P. São Paulo: Marins Fontes, 2005.
NOGUEIRA, J. Contos sem Fadas. 1.ed. São Paulo: Annablume: Dix, 2006
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